terça-feira, 27 de outubro de 2009

Perdão


Por Matheus Morais

Retrato, fotos, saudade

Ilusão, destino, voltar atrás

Entenda quem quiser, manual

Sutil, leve, discreto, bula, leia

Amor, sentimentos, desejo

Paixões, destruições, respeito

Dicionário, entenda, entenda

Escrevo, falta inspiração, vazio

Letras, linhas, inspirações

Desfiz, desarmei, entreguei

Qualquer, nenhuma, qualquer

Quero de volta, leia, a melhor coisa que fiz

Não quero mais de volta, disse, sim

Estou bem, livre, só risos, leia

Leia-se, liberdade, contato, pessoal

Falei, falo, falarei, leia

Leia-se, em linhas, escrevo

Entender, raro, difícil, talvez

Não mais, lágrimas, derrama, em face

Vital, era, iludir, não mais

Do jeito que quis, sutil, ressentimentos, jamais

Troco, não, de índole, não

Minhas, amei, hoje, não mais

Pouco tempo, se foi, voltará, não

Não quero, ao tempo, decisão

Surgirá, diferente, surgirá

Perfeição, não há, então, imperfeita

Leia, leia-se, traços

Rima, não, faço, término, fim

Fim, do fim, the end

Leia, leia- se, entenda

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Aquilo que chamam de Samba


Por Antonio Rimaci

Em tempos de “todo enfiado” e outras bizarrices que acabam por contribuir para o desgaste da imagem do nosso querido samba e do seu filho pagode, creio ser necessário investidas no sentido de resgatar as origens desse ritmo que, mais do que um estilo musical, é um estilo de vida.

E como resgatar nosso orgulho do samba? Pra mim, isso passa por voltar aos clássicos. E quem são os clássicos? Se falando de samba, essa resposta pode ser polêmica. É muito difícil definir onde tudo começou, sobretudo por não existir Google, nem Twitter, na época. Não quero entrar na discussão sobre origem, que muitos dizem ter sido na nossa querida Bahia. Mas o marco zero do samba, na minha humilde opinião, está no carioca, boêmio e safado, Noel Rosa. Talvez os leitores me perguntem por Cartola, que também foi espetacular, mas me permitam demonstrar todo meu fascínio por Noel. A simplicidade com que ele descrevia a vida boêmia, em versos como: “o orvalho vem caindo, vai molhar o meu chapéu, e também vão sumindo, as estrelas lá do céu...”, é o tipo mais belo de documento histórico. Noel bebia, fumava, amava, e fazia obras de arte, entre um trago e outro. E assim o dia raiava...

Noel foi um meteoro. 26 anos de vida de um verdadeiro gênio do samba, inimitável e inigualável. Um samba relaxado, descontraído, sem deixar de ser profundo e romântico. Retratos de uma época que ficará marcada para sempre na nossa história, ao som de seu violão.

E depois de Noel vieram os outros grandes pilares do samba. Da Vila Isabel para o frenesi da terra da garoa, encontramos Adoniran Barbosa e os Demônios, que oportunamente levam no nome o marco da grande capital da América do Sul, a garoa.

Aliadas a letras que retratam de forma peculiar e fiel a realidade dos paulistanos no início do século 20, Adoniran Barbosa construiu melodias que podem ser descritas como a mais pura expressão do samba. Na mesma batida, os Demônios da Garoa acabaram por imortalizar essas canções. Recentemente, a versão do grupo para o clássico “Trem das Onze” foi eleita a música-simbolo da cidade de São Paulo. Os “endiabrados”, que surgiram nos anos 40 e tiveram o grande encontro com Adoniran em 1949, estão no Guiness Book como o mais antigo grupo vocal em atividade no Brasil.

Irreverente e com um sotaque característico, o samba de São Paulo é absolutamente indispensável em qualquer playlist de um boêmio. Quem nunca encheu os pulmões e soltou, do fundo da alma, sentado numa mesa de boteco, os versos “Sooou filho único, tenho minha casa pra olhar”?!

O samba não parou por ai. No Rio tivemos o surgimento do Cacique de Ramos - e com ele Beth Carvalho, Fundo de Quintal e Arlindo Cruz - João Nogueira e o grande malandro Bezerra da Silva (pernambucano de nascimento, mas carioca de coração). Na Bahia o samba de roda sobrevive, e Mariene de Castro me deixa sem palavras. Seu Jorge é mais atual grande voz, a Orquestra Imperial trouxe de volta a beleza dos bailes ao som do cavaquinho, e Chico, outro grande malandro, continua a nos avisar “Hoje o samba saiu, procurando você...”.

Que nós, sambistas por convicção (com raras exceções), não deixemos essas origens morrerem. O samba é isso tudo, e que nós, a cada batida no pandeiro, a cada palma pra acompanhar, nos lembremos disso e possamos buscar tratar esse nosso tesouro da melhor forma. Afinal, o samba, “a gente não perde o prazer de cantar”... Não é?

p.s.1: Textinho escrito ao som de “Meu Barracão” - Noel Rosa, na voz de Caetano.

p.s.2: Eu devo ter esquecido de alguém. Sambistas, manifestem-se.